sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

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 A revelação do amor 

 

 

Não dá jeito nenhum, mas nós fomos feitos para nos dedicarmos a outra pessoa. Fomos feitos para nos entregarmos. Somos entregadores: quando nos apaixonamos, saímo-nos todos umas ricas encomendas.  

"Não o conheço!", dizem, "Não é a mesma pessoa!" - mas ainda com a s esperança, sentada em cima da surpresa a fazer tricot, que um dia ela volte a ser a pessoa que era.  

É o que acontece quando uma pessoa se apaixona por outra pessoa: parece outra. Mas não é. Aquela pessoa apaixonada é que é a pessoa verdadeira. É como se tivéssemos uma película fotográfica escondida dentro 10 de nós - a alma - que só é revelada através do amor. É como se a pessoa inteira fosse aquela alma: uma alma com braços, pernas e boca, que de repente emerge das cinzas onde passou a vida inteira. [..]  

A pessoa que está outra desde que se apaixonou é alguém que todos pensávamos conhecer muito bem. Era sólida e previsível e leal e amiga. Mas essa pessoa não mudou nem desapareceu: agora é sólida, previsível, leal e amiga com a pessoa por quem se apaixonou. [...] 

 Há eles e há o resto do mundo. O resto do mundo é apenas onde eles estão. É pelo resto do mundo que eles passam, a caminho deles próprios. O amor ri-se do tempo, ri-se da conveniência, dá tiros no pé, como se fossem bolhas de champanhe no céu da boca.  

É a única coisa que confunde, sabota e ultrapassa o egoísmo: a felicidade da pessoa amada passa a ser a nossa [...] 

 

 

Miguel Esteves Cardoso, in Público, 

25 de novembro de 2023 (texto com supressões e adaptado) 


Que história de amor gostariam de viver?



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